Rede em nuvem pode identificar bactérias em segundos

Nova ferramenta funciona como um banco de dados mundial de livre acesso a mais de 100 milhões de informações químicas de microrganismos

A espera por resultado de culturas bacterianas em fluidos biológicos pode ficar no passado com as novas tecnologias de informática. Um grupo de cientistas, brasileiros e de outros 14 países, acaba de lançar uma ferramenta que promete identificar rapidamente os microrganismos, particularmente bactérias, que infectam humanos e animais ou contaminam alimentos e o meio ambiente. Trata-se do MicrobeMASST, uma rede em nuvem, gerenciada por diferentes programas, que compara informações químicas de microrganismos, buscando pela identidade em um banco de dados mundial de livre acesso.

O feito envolve 15 países e 25 laboratórios diferentes, sete deles brasileiros, sendo três da USP, e reúne mais de 100 milhões de dados vindos de quase 61 mil análises químicas microbianas. A amostragem, segundo um dos responsáveis pelos trabalhos no Brasil, o professor Norberto Peporine Lopes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, é referenciada em 1.300 espécies, mais de 500 gêneros e mais de 260 famílias de bactérias e gerenciada por sistemas que facilitam a rápida identificação de agentes bacterianos.

A grande vantagem da ferramenta, argumenta o pesquisador, está justamente no curto período de tempo – alguns segundos – para o reconhecimento de um microrganismo que “muitas vezes tem que ser cultivado antes de ser analisado”. Como exemplo, Lopes lembra a importância vital de identificar uma bactéria para o início do tratamento de uma infecção.

Norberto Peporine Lopes – Foto: Arquivo Pessoal


Para além do interesse de toda a área de saúde, a identificação desses microrganismos serve a diferentes setores. Da agronomia (patógenos do solo ou plantas) à arqueologia, passando pela exploração de regiões menos exploradas do Planeta (como a Antártida), pela área alimentícia e a forense, a ferramenta deve servir a qualquer área que necessite descobrir rapidamente quais famílias de microrganismos uma amostra muito pequena contém.

Ao invés do genoma, massa e estrutura químicas

O MicrobeMASST é alimentado por dados de repositórios públicos como o da própria Rede Mundial de Material Molecular de Produtos Naturais (GNPS sigla em inglês), plataforma criada em 2015 pelo mesmo grupo de cientistas que reúne informações das mais diferentes substâncias químicas existentes no Planeta. Segundo os pesquisadores, a ferramenta preenche lacunas de outros bancos de dados públicos e comerciais que são limitados a modelos que usam o genoma e não a massa e estrutura químicas.

Para abarcar ao máximo o potencial metabolômico (grande diversidade química resultante do metabolismo) dos microrganismos, a nova ferramenta trabalha amostras de espectros que são fornecidos pela técnica de espectrometria de massa. Esses espectros são resultados de análises químicas de substâncias de cada amostra obtidos pela técnica, “que funciona como uma balança de moléculas que mede a massa de uma substância orgânica”, conta o professor Lopes.

A substância orgânica, continua o professor, possui massa constituída e é formada por ligações entre átomos, “por exemplo, carbono com carbono, carbono com oxigênio”. Assim, além do peso molecular, a espectrometria também fornece informações das diversas partes da molécula, ou seja, “as conectividades são quebradas após a pesagem da amostra e com isso podemos montar esse quebra-cabeça”. Assim, completa ele, a espectrometria de massas fornece duas informações: “A massa, que popularmente chamamos, de forma errônea, de peso, e quais são as ligações existentes entre os átomos, que é característica de cada uma das substâncias químicas.”

Central da USP é a maior da América Latina

Os três laboratórios da USP responsáveis pela nova ferramenta são os da professora Letícia Lotufo, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB); da professora Mônica Tallarico Pupo, da FCFRP, e o do professor Lopes, responsável pela Central de Espectrometria de Massas de Micromoléculas Orgânicas da FCFRP, que gerou parte dos dados espectrais do estudo.

Além da USP, a criação do MicrobeMASST contou com a participação do Instituto de Ciências do Mar da Unifesp, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da Escola Superior de Ciências de Saúde da Universidade do Estado do Amazonas e da Embrapa Amazônia Ocidental.

“Todos esses brasileiros colaboraram muito com o cultivo e caracterização de bibliotecas de microrganismos e, no meu caso, o trabalho maior foi com a ferramenta da espectrometria de massas”, informa Lopes, acrescentando que a Central Espectrometria da FCFRP, denominada CEMMO, hoje “é, seguramente, a maior em atividade para análise de substâncias orgânicas de baixa massa molecular da América Latina”.

Os detalhes do trabalho realizado pelo grupo de cientistas podem ser conferidos no artigo que acaba de ser publicado pela Nature Microbiology.

Mais informações: e-mail cemmo@fcfrp.usp.br, com Norberto P. Lopes

Reportagem publicada originalmente em Jornal da USP.

Pesquisa vai avaliar uso de antimicrobianos pela população brasileira

CFF é parceiro do estudo, desenvolvido pela Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). Farmacêuticos podem e devem contribuir

A resistência antimicrobiana é considerada uma das maiores ameaças para a saúde global e, na América Latina, já se observa uma tendência crescente de resistência em infecções comunitárias e hospitalares. De acordo com a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050 a resistência bacteriana poderá estar associada a 10 milhões de mortes anuais. Atualmente, estima-se que pelo menos 700 mil pessoas morrem por ano no mundo devido a esse problema. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019).

O aumento da resistência antimicrobiana é influenciado principalmente pelo uso indiscriminado de antimicrobianos e durante a pandemia do Covid-19, o seu uso atingiu níveis alarmantes. Algumas estratégias da OMS têm buscado conhecer os fatores que têm aumentado a resistência antimicrobiana em diferentes países e estabelecer políticas de saúde com a finalidade de reduzir essa ameaça. Assim, está em curso, no Brasil, uma pesquisa on-line sobre o uso desses medicamentos.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) é parceiro no estudo conduzido pela PAHO/OPAS – Organização Pan-americana de Saúde e coordenado pela professora pesquisadora Dra. Patrícia Sodré, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Também participam pesquisadores e instituições como a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), além do Centro de Farmacologia (CUFAR) da Universidade Nacional de La Plata, da Argentina.

Para responder o formulário, basta acessar o link – https://redcap.link/gd15zgai.

A proposta da pesquisa está embasada em projeto mestre elaborado pelo CUFAR, a partir do desejo da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) em comparar resultados na América Latina e Caribe. “Seu objetivo é identificar os antibióticos que estão sendo utilizados na população brasileira maior de 18 anos, assim como os fatores que influenciam seu uso”, explica a coordenadora do estudo. “Isso, porque o consumo difere entre regiões e se modifica no decorrer do tempo em função das mudanças do perfil saúde/doença e das políticas públicas existentes”, acrescenta.

De acordo com Patrícia Sodré, as investigações locais permitem identificar, monitorar e produzir informações sobre uso de medicamentos pela população. “Além disso, estudar a utilização de antibióticos pode ajudar a compreender os aspectos multifatoriais envolvidos e suas implicações na saúde”, acrescenta Mônica Meira, conselheira federal de Farmácia pelo estado de Alagoas. “É uma forma de direcionar estratégias na perspectiva da otimização dos recursos existentes, da garantia do acesso e da promoção do uso racional, visando à instituição de políticas de saúde que restrinjam o uso inadequado de antimicrobianos, como forma de prevenir a falência dos esquemas terapêuticos atuais”, destaca.

O presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge João, conclama todos os farmacêuticos do Brasil a participar da pesquisa e a incentivar seus pacientes a também colaborar. “Convidamos todos a contribuir! Ajudem a divulgar para outras pessoas de seu círculo de relacionamento, sejam elas outros farmacêuticos, familiares, amigos, vizinhos ou funcionários.” Mais informações sobre a pesquisa podem ser obtidas pelo endereço de e-mail: projetousodeantibioticos@gmail.com.

Reportagem publicada originalmente em CFF.org.br

Pesquisadora da UFG recebe Prêmio Internacional por avanços em Nanotecnologia Farmacêutica

As descobertas realizadas abrem caminhos para o futuro uso de nanopartículas em doenças pulmonares

A egressa do Doutorado em Rede em Nanotecnologia Farmacêutica, Kamila Bohne Japiassú, recebeu o prêmio de tese 2023 da Academia de Farmácia da França. A conquista é resultado de uma colaboração estratégica entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade de Paris Saclay, impulsionada pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) e pelo acordo de cotutela firmado entre as instituições.

A conquista e o reconhecimento internacional recebido pela pesquisadora demonstra a importância que a universidade e suas pesquisas tem projetado no cenário mundial, com seus projetos e parcerias. A pesquisa, focada em nanopartículas lipídicas, revela potenciais aplicações no tratamento de doenças pulmonares, tendo adquirido ainda mais relevância em meio à pandemia de Covid-19.

Os estudos desenvolvidos sublinham a importância da internacionalização na UFG, com destaque para o comprometimento em proporcionar oportunidades de mobilidade acadêmica aos seus pesquisadores. A pesquisa de Kamila fortalece os princípios e práticas da universidade como um polo de inovação e excelência em ciências farmacêuticas, posicionando-a assim como uma protagonista na vanguarda da pesquisa científica global, ampliando suas conexões e possibilitando colaborações que reverberam positivamente para o âmbito da pós-graduação e para a formação de profissionais altamente capacitados.

Em entrevista à PRPG, a pesquisadora revela não apenas as contribuições científicas promovidas, mas aborda também o papel que desempenha no Centro de Pesquisa Avançada da L’Oréal em Paris, no qual lidera projetos clínicos na equipe de Pesquisa Clínica e Biofísica. A conversa reitera a importância da conexão entre pesquisa acadêmica e indústria e destaca não apenas a versatilidade da pesquisadora, mas também como suas descobertas têm o potencial de impactar a sociedade. Confira a entrevista na íntegra a seguir.

Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.

Como surgiu a oportunidade de realizar o período sanduíche na Universidade de Paris Saclay e como essa experiência influenciou sua pesquisa?

A oportunidade de desenvolver parte da minha tese de doutorado na Paris-Saclay foi viabilizada através da colaboração da minha orientadora, professora Eliana Martins Lima, coordenadora do FarmaTec-UFG e da Dra. Thais Leite Nascimento (também egressa do FarmaTec e atualmente professora visitante do PPGCF) com o professor Elias Fattal, diretor do Instituto Galien Paris-Saclay e financiada pelo programa de Doutorado Sanduíche no exterior da Capes. Essa colaboração me permitiu trabalhar com alguns dos melhores pesquisadores da área e desenvolver meu conhecimento sobre formulação e caracterização de nanopartículas, bem como sobre biologia molecular e celular. Também pude estudar a biodistribuição e a eficácia das nanopartículas lipídicas desenvolvidas em modelos ex vivo e in vivo de inflamação pulmonar em camundongos.

Quais são as principais descobertas ou contribuições da sua pesquisa?

A primeira parte da tese sobre lipossomas para o direcionamento de células foi publicada no Journal of Control Release (DOI: 10.1016/j.jconrel.2022.10.006) – (fator de impacto 11,46), enquanto um segundo estudo sobre a eficácia anti-inflamatória dessas nanopartículas lipidicas foi publicado no International Journal of Pharmaceutics (DOI: 10.1016/j.ijpharm.2023.122946) – (fator de impacto 6,51). Além da colaboração entre França e Brasil, a tese também me permitiu coparticipar de outros trabalhos sobre modificação de superfície e reconhecimento celular com laboratórios internacionais, como equipes na Itália e na Espanha, com as quais também publiquei dois artigos no International Journal of Molecular Sciences (DOI:10.1111/bph.15898) – (fator de impacto 6,21) e no British Journal of Pharmacology (DOI:10.3390/ijms22147743) – (fator de impacto 9,47).

De que forma os estudos desenvolvidos podem impactar a indústria e a prática clínica?

O trabalho desenvolvido é interdisciplinar e na fronteira entre a nanotecnologia farmacêutica e a biologia. Durante a tese procurei entender o impacto da química da superfície dos lipossomas em seu destino após a administração pulmonar. Como resultado, meu trabalho oferece alguns caminhos muito interessantes para melhorar a biodistribuição de nanopartículas nos pulmões e o direcionamento específico de macrófagos alveolares, aspectos fundamentais para o possível uso futuro de nanopartículas em doenças pulmonares.

Qual a importância do reconhecimento da Academia de Farmácia da França com o Prêmio de Tese 2023 para sua pesquisa e para a pós-graduação da UFG de forma geral?

O reconhecimento internacional aumenta a visibilidade da pesquisa iniciada na UFG e abre portas para diversas oportunidades futuras. Além de facilitar na construção de redes e parcerias com pesquisadores e profissionais de todo o mundo, as colaborações internacionais podem levar a projetos de pesquisa mais abrangentes, compartilhamento de conhecimento e acesso a recursos que podem não estar disponíveis em um contexto nacional.

Quais foram os principais desafios e aprendizados vivenciados durante a elaboração da pesquisa?

Sem dúvidas foi enfrentar a pandemia longe do Brasil, com o período de maiores restrições tendo iniciado apenas 5 meses após minha chegada em Paris. A França fez um confinamento severo de quase 2 meses e isso impactou diretamente na realização dos experimentos da tese. Como aprendizado ficou sobretudo a melhora na capacidade de adaptação a desafios e mudanças, e ainda tivemos que submeter um pedido de prorrogação de estadia à Capes para que fosse possível a finalização dos experimentos in vivo na França.

Como essa experiência internacional contribuiu para o desenvolvimento da sua carreira e pesquisa?

A experiência internacional contribuiu significativamente para o desenvolvimento da minha carreira e pesquisa de várias maneiras. As colaborações internacionais trouxeram novas perspectivas para a pesquisa e proporcionaram acesso a recursos específicos, o que acelerou o progresso do trabalho. Sem contar com a promoção da experiência multicultural e o desenvolvimento de competências linguísticas.

Quais são as expectativas futuras para a pesquisa desenvolvida? Em que medida sua pesquisa em nanotecnologia farmacêutica tem o potencial de impactar positivamente a sociedade?

Durante a tese criamos um modelo murino de inflamação pulmonar e sua análise por citometria de fluxo e transcriptômica, o que nos permitiu fazer uma avaliação detalhada do destino dos lipossomas in vivo. O modelo e as técnicas desenvolvidas agora estão sendo usados por outros alunos em projetos relacionados. Ainda, foram produzidas 4 publicações científicas, todas em jornais extremamente relevantes para o domínio das ciências farmacêuticas. Isso sem dúvidas leva a continuidade da pesquisa com os lipossomas desenvolvidos não só utilizando a dexametasona como também outras moléculas ativas na prevenção ou tratamento de outras doenças. É importante destacar que a inovação em formulações para administração pulmonar ganhou mais relevância e destaque em função da Covid19, e esta via de administração, assim como formulações desenvolvidas para esta finalidade tem sido objeto de estudos aprofundados do grupo de pesquisa da Profa. Eliana Lima na UFG e muitos resultados impactantes estão sendo produzidos.

Pode compartilhar um pouco sobre sua função no Centro de Pesquisa Avançada da L’Oréal em Paris?
Como parte integrante da Divisão de Pesquisa e Inovação do Grupo L’Oréal, a missão da Pesquisa Avançada (RAV) é aproveitar os principais conhecimentos científicos sobre pele e cabelo (Descoberta) e desenvolver novas matérias-primas, moléculas ou ingredientes ativos (Invenções) para a beleza do futuro. Na RAV, faço parte da equipe de Pesquisa Clínica e Biofísica e, como chefe de projetos clínicos, tenho a missão de coordenar e conduzir estudos clínicos de conhecimento e prova de conceito para a avaliação de novas moléculas ativas. Minha formação na UFG, da graduação em Farmácia ao Doutorado em Nanotecnologia Farmacêutica é a maior parte da minha bagagem e capacitação para o desempenho de minhas atividades em um centro de pesquisa avançado de uma das maiores empresas do mundo e a maior do ramo de skin care.

De que maneira sua formação em nanotecnologia farmacêutica se alinha com as atividades desenvolvidas na L’Oréal?

A formação em nanotecnologia farmacêutica pode agregar uma perspectiva inovadora e técnica ao papel de chefe de projetos clínicos na indústria. Isso porque a nanotecnologia envolve frequentemente colaborações entre profissionais de diversas áreas, como química, biologia e engenharia, o que auxilia na gestão de equipes multidisciplinares dentro e fora da indústria, além de contribuir para uma compreensão mais aprofundada dos aspectos clínicos relacionados à segurança e eficácia de produtos.

Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.

Reportagem publicada originalmente em pos.ufg.br

Vacina intranasal testada na USP tem 100% de eficácia contra a Covid-19, aponta estudo

Imunizante pioneiro, testado em camundongos, foi desenvolvido por meio de um esforço conjunto de diversas instituições.

Uma vacina intranasal contra Covid-19 apresentou 100% de eficácia contra o vírus, quando testada em camundongos. É o que aponta um estudo desenvolvido no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em um convênio com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e parceria com pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e Instituto de Medicina Tropical (IMT), ambos da USP, além da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa, publicada na revista ​​Vaccines, contou também com o apoio da Fapesp.

Uma alternativa às vacinas atualmente disponíveis, de aplicação intramuscular, o novo imunizante induz imunidade pela mucosa do corpo, podendo ser aplicado pelo nariz ou pela boca na forma de “spray”. O imunizante é um dos primeiros do formato a ser testado no mundo. “Como o SARS-CoV-2 é um vírus respiratório, foi natural propor uma vacina que pudesse neutralizá-lo já na área mais propensa às suas tentativas de entrada no corpo humano, ou seja, nas vias aéreas superiores”, conta Momtchilo Russo, professor do Departamento de Imunologia do ICB e um dos coordenadores do estudo. Nas mucosas, há uma grande produção de anticorpos, incluindo a Imunoglobulina A (IgA), proteína fundamental para a nossa imunidade de mucosa.

Resumo gráfico dos mecanismos imunológicos que operam na COVID-19 – Fonte artigo

Direto no pulmão — A vacina, para despertar a imunidade, utiliza como antígeno a proteína Spike (S) — fornecida aos pesquisadores pela Profa. Leda Castilho, que coordena na UFRJ o Laboratório de Engenharia Celular —, de maneira similar a outras como a Oxford-Astrazeneca ou Janssen. Quando o indivíduo é infectado, o sistema imune detecta essa proteína S, presente no SARS-CoV-2 e induz a produção de anticorpos IgA, iniciando a ação contra o vírus no local.

A vacina contém também um adjuvante, já usado em seres humanos em outras ocasiões, o CpG. Composto por oligonucleotídeos contendo citosina e guanina, o CpG potencializa a eficácia da vacina. Para compor o produto final, o CpG e a proteína S são inseridos em uma partícula de lipídio (lipossoma).

“Trata-se de uma técnica fácil de realizar, se comparada, por exemplo, com as vacinas que usam os RNAs mensageiros, ou com as vacinas de adenovírus, que são mais complicadas de se produzir e armazenar, pois requerem temperaturas baixíssimas para a sua manutenção”, acrescenta Russo. Outra vantagem da vacina intranasal em relação às intramusculares diz respeito à sua eficácia no pulmão: ao circular pela mucosa, o imunizante atinge mais rapidamente esse órgão.

Testes em camundongos — No estudo, foi utilizado modelo animal com camundongos transgênicos que expressam o receptor do vírus nas células epiteliais do trato respiratório. Quando infectados pelo vírus, os animais desenvolvem pneumonia viral bilateral, perdem peso e a maioria sucumbe à infecção em sete dias.

Resumo gráfico dos mecanismos imunológicos que operam na COVID-19

Nos testes, 100% dos animais vacinados foram protegidos contra a infecção considerando a mortalidade ou perda de peso. A vacina intranasal mostrou-se mais eficiente na eliminação do vírus do pulmão e ao induzir a produção de anticorpos IgA, quando comparada com a aplicação subcutânea do mesmo imunizante. O fato de diminuir a carga viral no pulmão sugere que a transmissão do vírus pode ser menor com a vacina intranasal. Foi constatada a mesma proteção contra outras variantes de preocupação do SARS-CoV-2, incluindo a gamma, delta e ômicron.

“Nossa vacina também pode funcionar muito bem como reforço heterólogo, combinando-a com outros tipos de vacinas já aplicadas anteriormente, como com a AstraZeneca ou CoronaVac”, sugere o pesquisador.

Imunizante 100% nacional — O projeto surgiu com base em linhas de pesquisa anteriores de Russo, que possui experiência de mais de 30 anos em imunologia do pulmão e no conhecido papel das mucosas no sistema imune, e foi submetido pela Dra. Luciana Mirotti, que atuou como coordenadora geral. Durante seu pós-doutorado, a também imunologista trabalhou no laboratório do Prof. Russo em um modelo pulmonar buscando criar uma vacina contra asma alérgica. Posteriormente, já na Fiocruz, teve a oportunidade de participar de um projeto Inova — programa de pré-aceleração de projetos da Fundação — e convidou o antigo orientador para uma colaboração.

“Sugeri que adaptássemos nossa linha de pesquisa anterior para a produção de um imunizante contra o SARS-CoV-2. Então elaboramos uma pequena proposta de pesquisa, na qual demos como exemplo a vacina Sabin, contra a poliomielite, que é aplicada na forma oral induzindo imunidade de mucosa, algo muito positivo em face da fobia de agulha de muitas pessoas”, conta o professor.

A partir daí, iniciou-se um esforço colaborativo nas diferentes frentes e etapas necessárias à produção de uma nova vacina: produção do vírus e ensaios de neutralização no IMT da FMUSP, infecção dos camundongos, realizada no laboratório nível de segurança NB-3 da FCF-USP; imunização desses animais, realizada no ICB; e o já citado fornecimento da proteína Spike pela UFRJ, além da colaboração de pesquisadores da Fiocruz.

“Uma das ideias básicas para a implementação desse imunizante é que todos os insumos, instalações e expertise fossem disponíveis no nosso país, por isso o grande esforço de colaboração”, ressalta. O imunizante agora deverá avançar para outras etapas de teste.

UFRN oferta primeiro doutorado no interior do RN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) oferta o primeiro doutorado no interior do estado. O curso integra o Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, vinculado à Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (Facisa), em Santa Cruz-RN, e ao Centro de Ciências da Saúde (CCS), em Natal-RN. Com oferta nos dois polos, há a previsão de abertura de 20 vagas a partir do primeiro semestre de 2024.

O doutorado surgiu a partir da fusão do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação com o Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, que foi aprovada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em dezembro de 2023.

O pró-reitor de Pós-Graduação (PPG-UFRN), Rubens Maribondo, destacou a importância da aprovação do programa, que demonstra o esforço institucional para consolidar a política de interiorização do ensino de pós-graduação. O gestor ressaltou ainda o caráter descentralizado do curso, visto que envolve o CCS e a Facisa.

Informações em Ascom-Reitoria UFRN

Farmacêutica baiana é eleita “Membro Afiliado” Academia Brasileira de Ciências

A farmacêutica baiana, Dra. Bruna Aparecida Souza Machado, pesquisadora e professora titular do Centro Universitário SENAI CIMATEC, foi eleita “Membro Afiliado” da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Sua escolha aconteceu em Assembleia Geral Ordinária, realizada na segunda-feira (4), quando a Diretoria da ABC divulgou o resultado das eleições para membros titulares, correspondentes e afiliados.

A Dra. Bruna explica que os membros titulares da ABC indicam novos nomes das Regiões do Brasil, para ocupar o cargo de membros afiliados, “Concorri, com outros profissionais, a uma cadeira na área da Ciências da Saúde, mas não sabia da minha indicação. Foi uma grata surpresa”, declara.

A farmacêutica baiana foi eleita pela Região Nordeste e Espírito Santo (Região NE & ES).

Este ano as mulheres são maioria entre os titulares eleitos, com 60%. Essa proporção demonstra uma tendência rumo à igualdade de gênero no topo da carreira científica, que cada vez mais se reflete na Associação. Entre os membros afiliados, a equidade também foi atingida, com 50%.

A nova integrante da ABC, informa que esta é uma instituição, formada por cientistas de elevado renome e de diferentes áreas, que tem contribuído com os avanços tecnológicos, na educação, bem como no bem-estar da sociedade brasileira.

“É um enorme prazer e orgulho esta nomeação. Vejo como um reconhecimento pela minha trajetória profissional. Representar a instituição da qual faço parte, que é o SENAI CIMATEC, assim como a área de saúde e o nosso estado, será um privilégio”, afirma.

Reportagem publicada originalmente em www.crf-ba.org.br.

Univali se aproxima de cura para doenças degenerativas em estudo com planta brasileira

O estudo é uma colaboração entre a instituição catarinense com uma universidade da Coréia do Sul; Planta pode ser chave para combater doenças como Alzheimer, doenças Inflamatórias Intestinais e outras

A busca pelo tratamento de doenças degenerativas, como o Alzheimer, pode estar um passo mais perto da resposta com uma recente colaboração internacional entre a Univali, em Santa Catarina, e a Dankook University, na Coreia do Sul.

Anunciado nesta quarta-feira (1º) pela Univali (Universidade do Vale do Itajaí), o projeto de pesquisa aprovado visa explorar os potenciais medicinais da planta Guanandi (Calophyllum brasiliense). Esta árvore, nativa do Brasil, tem suas folhas tradicionalmente empregadas no tratamento de diversas condições, como inflamação e dor.

Com nove pesquisadores do curso de Farmácia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Univali envolvidos, o foco no Brasil será aprimorar métodos de extração da planta, técnicas de concentração, padronização dos materiais e coleta de dados sobre a segurança de seu uso.

Do lado da Coreia do Sul, a investigação, sob a supervisão da pesquisadora So-Young Park, buscará entender se o Guanandi pode ter efeitos benéficos em doenças associadas à inflamação, incluindo Doenças Inflamatórias Intestinais, Alzheimer e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

O plano é conduzir o estudo utilizando experimentos in vitro, seguidos por experimentos in vivo com animais. A finalidade principal é criar uma base sólida para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos ou suplementos derivados da planta Guanandi, que já demonstrou propriedades anti-inflamatórias em estudos antecedentes.

Para garantir que a pesquisa avance, um financiamento de aproximadamente R$ 350 mil foi designado para cobrir despesas e prover bolsas de pesquisa.

À frente desse projeto promissor estão pesquisadores da Univali, sob a liderança do professor Valdir Cechinel Filho, juntamente com a especialista da Coreia do Sul, So-Young Park. A colaboração entre as instituições representa um avanço potencial na busca por tratamentos inovadores para doenças degenerativas.

Guanandi: uma potência natural

Originária do Brasil, a árvore Guanandi (Calophyllum brasiliense) marca presença nas regiões de mata atlântica e cerrado. Suas folhas, ao longo dos anos, ganharam destaque na medicina popular brasileira.

Estas folhas, carregadas de história e tradição, são amplamente reconhecidas por seus usos em tratamentos de várias condições, especialmente dor e inflamação. Estudos sugerem que o Guanandi possua compostos que exibem características anti-inflamatórias e que podem oferecer benefícios terapêuticos.

Com isso em vista, um projeto de pesquisa emergente em Santa Catarina visa aprofundar o conhecimento sobre as propriedades medicinais do Guanandi. Em parceria com especialistas da Coreia do Sul, os pesquisadores buscam compreender melhor como essa planta pode ser aplicada no desenvolvimento de novos medicamentos ou suplementos.

O foco, além de identificar os benefícios gerais da planta, é investigar sua eficácia no combate a doenças específicas, como o Alzheimer, doenças Inflamatórias Intestinais e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. A jornada de pesquisa também envolve aprimorar métodos de extração para maximizar os benefícios do Guanandi.

Reportagem originalmente publicada em Visor Notícias.

Eliezer Barreiro recebe título de doutor honoris causa da Univasf

Instituição homenageia professor emérito da UFRJ pela contribuição no desenvolvimento da ciência e formação acadêmica no interior do Nordeste

O nome dele é referência na farmacologia brasileira e nas ciências biomédicas. Hoje, aos 76 anos, Eliezer Jesus de Lacerda Barreiro é professor emérito da UFRJ, um título que recebeu no ano passado pela atuação na pesquisa para síntese e avaliação de novos compostos com vistas à produção de fármacos. E na tarde de sexta-feira (24/11), ele foi agraciado com mais uma homenagem no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o “Quinhentão”, no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Desta vez, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) lhe concedeu a distinção de doutor honoris causa (em tradução livre do latim, “por causa de honra”).

Com a saúde debilitada, o professor Barreiro reconheceu o esforço da Univasf em prestar a homenagem no Rio de Janeiro. O reitor da instituição superior nordestina, Telio Nobre Leite, se deslocou pessoalmente para realizar a cerimônia na UFRJ, acompanhado do proponente da homenagem, o coordenador do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) da Univasf, Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida, que, apesar de não ter recebido orientação de Eliezer Barreiro nem no mestrado e nem no doutorado, creditou ao docente parte da responsabilidade pela origem do curso de Farmácia, por seus conselhos e opiniões.

O professor Eliezer Barreiro confessou enorme alegria pela homenagem. Segundo ele, esse título de doutor honoris causa tem um sabor “mais temperado”, pelo progresso que a Univasf tem tido nas duas últimas décadas. “A instituição tem grupos de pesquisas de excelência nacional e internacional. Quando estive na Capes, como coordenador de área, identifiquei que surgia, com a liderança do professor Jackson, um grupo de pesquisa muito produtivo. Eu me vejo gratificado com esse reconhecimento, para mim exagerado, da parte da Univasf”, disse o homenageado antes do início da cerimônia.

Para o reitor da Univasf, o professor Eliezer Barreiro é uma inspiração por contribuir para o surgimento de novas lideranças científicas e por acreditar no potencial dos nordestinos. “O professor está na história de nossa universidade. O título é para deixar registrada a contribuição importante dele para nós, desde a formação de professores na área de ciências farmacêuticas até a origem do curso. Iria aonde ele estivesse para fazer esta homenagem. O professor é um incentivador da pesquisa e de nossos eventos acadêmicos. Eliezer é um mentor, um guia e uma inspiração para os professores e estudantes de Farmácia”, disse Télio Leite.

Em 2002, a Univasf surgiu como primeira universidade federal a ser implantada no interior do Nordeste brasileiro, levando conhecimento, capacitação e formação para o semiárido. Com sede em Petrolina (PE), a instituição ainda possui outros campi ao longo do rio São Francisco, em Pernambuco (Petrolina e Salgueiro), Bahia (Juazeiro, Senhor do Bonfim e Paulo Afonso) e Piauí (São Raimundo Nonato).

De acordo com o professor Jackson Almeida, o homenageado sempre foi solícito e atencioso quando era procurado para dar conselhos e opiniões sobre o projeto pedagógico para a criação do curso de Farmácia. “O professor Eliezer contribuiu para reduzir as assimetrias regionais no ensino do Brasil. Ano a ano, desde 2007, participou dos simpósios que realizamos, exceto o último, ocorrido em setembro, quando não pôde estar presente. É uma homenagem também de todas as universidades do Nordeste”, afirmou o coordenador do NPPN/Univasf.

O reitor da UFRJ afirmou que Eliezer de Jesus é magnífico por tudo o que fez na carreira em favor da ciência, da saúde e da química medicinal no Brasil. “A nossa faculdade de Farmácia e o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) contribuem para o país, para o Sistema Único de Saúde, não apenas na formação de técnicos qualificados, mas de cidadãos éticos e comprometidos com a transformação social. O professor Eliezer é uma ‘joia da coroa’ da UFRJ por tudo o que fez, com zelo, respeito e cuidado. Muitas vezes eu o via sair daqui tarde da noite. Uma enorme dedicação para a ciência e a saúde”, concluiu Roberto Medronho.

Por Por Sidney Rodrigues Coutinho

Reportagem publicada originalmente em Conexão UFRJ

ABCF Jovem reforça a participação de novos pesquisadores em Ciências Farmacêuticas na ABCF

Dirigentes convidam estudantes de graduação, mestrado e doutorado a promoverem integração diversificada da profissão

A Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF) não só promove a excelência acadêmica, mas também busca ampliar a influência dos jovens pesquisadores por meio de um novo segmento, a ABCF Jovem.

A ABCF Jovem foi criada para incentivar e atrair para a ABCF estudantes de graduação e de pós-graduação das Ciências Farmacêuticas. A ideia é fazer com que esses jovens pesquisadores não sejam meros espectadores, mas também participem e envolvam-se de modo efetivo nas atividades da Associação.

Sob a liderança de duas pós-graduandas, Samanta da Silva Gündel e Izadora Borgmann Frizzo, a ABCF Jovem se transformou em um ambiente dinâmico para a interação de estudantes de diferentes níveis acadêmicos com a diretoria da ABCF. “Hoje trabalhamos de forma integrada com a diretoria da ABCF apontando as necessidades, ajudando a construir e melhorar a Associação. Além disso, estamos participando ativamente no fortalecimento das Ciências Farmacêuticas e incentivando a participação de jovens pesquisadores e farmacêuticos na ABCF”, conta Samanta.

Izadora Borgmann Frizzo – Diretora da ABCF Jovem

A jovem pesquisadora Samanta é farmacêutica formada pela Universidade Franciscana (UFN). Atualmente é doutoranda em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e foi eleita pelos representantes discentes dos PPGs da área de Farmácia da CAPES para liderar a ABCF Jovem. “Desde o início, encantei-me pela pesquisa científica, seus desafios e pelo aprendizado constante no laboratório”, conta Samanta.

Samanta da Silva Gündel – Diretora da ABCF Jovem

Formada em Farmácia pela Universidade de Passo Fundo (UPF), com mestrado em Análises Clínicas e atual doutoranda em Farmácia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Izadora é vinculada ao Laboratório de Microbiologia Molecular Aplicada (MiMA – UFSC). Sua trajetória é marcada pelo interesse crescente na pesquisa, buscando oportunidades desde a graduação.

“Sou uma apaixonada pela ciência e fico feliz em identificar isso desde cedo, com minha graduação. Entendo a importância e a diferença que a ciência pode fazer no núcleo social. Por isso, insisto nessa caminhada”, pontua a pesquisadora Izadora.

Com foco em aumentar a visibilidade da ABCF, a ABCF Jovem está atuando na difusão de informações sobre a Associação e, consequentemente, no fortalecimento da ciência. “Os profissionais brasileiros se destacam globalmente na ciência, mas a comunidade científica do país enfrenta desafios que, geralmente, limitam seu progresso. Temos que iniciar uma mudança nesse processo desde cedo e a ABCF Jovem pode contribuir bastante neste sentido”, ressalta Samanta.

Faça parte da ABCF Jovem

Com o propósito de expandir o seu alcance, a ABCF Jovem convida jovens pesquisadores das Ciências Farmacêuticas a se associarem à ABCF e a terem voz ativa na definição de diretrizes e iniciativas dentro da sua área de atuação.

Podem integrar a ABCF estudantes da graduação, mestrado ou doutorado da área de Ciências Farmacêuticas e áreas afins. A ABCF Jovem foi criada para estimular a participação ativa desses estudantes em discussões e programas que impulsionam a área.

“A Associação procura ativamente ouvir e dar voz aos pesquisadores do presente e do futuro, como evidenciado na recente participação dos discentes na preparação do próximo Congresso da ABCF, marcado para 2024”, frisa Samanta. A pesquisadora Izadora complementa: “fazendo parte desta iniciativa, o jovem contribui com a sua perspectiva para o desenvolvimento contínuo das Ciências Farmacêuticas, para a descobertas de novas pesquisas”.

Ao se associar a ABCF, além de fazer parte de uma associação que promove e incentiva as Ciências Farmacêuticas, o associado também tem descontos em inscrições de eventos científicos e em ações de empresas associadas.

Para se associar-se à ABCF é simples. Basta clicar aqui para preencher a ficha de cadastro, fazer o pagamento da anuidade e pronto! Você passa a integrar esse time de pesquisadores que se uniram em prol das Ciências Farmacêuticas.

Dúvidas e informações podem ser esclarecidas pelo e-mail: abcfjovem@gmail.com

Reconstrução da ciência brasileira depende de orçamento robusto

Artigo assinado por Charles Morphy D. Santos, pró-reitor de Pós-graduação da Universidade Federal do ABC (UFABC), e Lucindo J. Quintans Júnior, pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Após um quadriênio de negacionismo científico e ataques às universidades e institutos de pesquisa, a revitalização de programas estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e as ações tomadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa do país, são fundamentais para a reconstrução do panorama acadêmico-científico nacional. No entanto, não há como reposicionar a nossa ciência no âmbito internacional sem orçamento adequado. Os resultados parciais do último edital Universal do CNPq, uma das mais basilares fontes de recursos para o pesquisador brasileiro, divulgados em 19 de outubro, mostram que o fomento à pesquisa ainda é claudicante no Brasil.

O Universal do CNPq, que passou anos sem chamadas abertas, objetiva apoiar projetos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento. O edital aberto em junho deste ano destinava-se a grupos emergentes, com equipes de no mínimo três doutores, e grupos consolidados, para equipes maiores, com cinco ou mais doutores em pelo menos duas instituições distintas.

Os resultados parciais dessa chamada sinalizam um desafio para a comunidade científica brasileira. Ainda que o montante de 300 milhões de reais (cerca de 60 milhões de dólares) destinado a esta chamada Universal seja um passo significativo para fora das trevas dos últimos quatro anos, há espaço para avançar muito mais.

São números impressionantes, mas não surpreendentes: 9.757 propostas submetidas, das quais 7.671 recomendadas. Contudo, apenas 2.751 propostas foram aprovadas (28%), totalizando cerca de 270 milhões de reais em recursos destinados aos projetos. Essa discrepância entre projetos recomendados, alguns com avaliações excelentes dos pareceristas ad hoc, especialistas nas temáticas dos projetos, e aqueles que efetivamente serão financiados aponta para a existência de um rol relevante (72%) de propostas meritórias sem financiamento. Projetos importantes para o desenvolvimento do país estão sendo, de certa forma, negligenciados. O CNPq deve considerar formas alternativas de apoiá-los.

Levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) indica predominância de projetos aprovados na Região Sudeste, que abriga o maior número de programas de pós-graduação e grupos de pesquisa no Brasil: 1152 propostas, totalizando 116 milhões de reais. Para a região Nordeste, foram 639 propostas aprovadas (quase 61 milhões de reais), enquanto o aporte para as 615 propostas aprovadas na região Sul foi de 60 milhões de reais. As regiões Norte e Centro-Oeste, somadas, tiveram 345 propostas aprovadas para um total de 33 milhões de reais.

Até o momento, antes da análise dos pedidos de reconsideração pelo CNPq, foram aprovados cerca de 270 milhões de reais para grupos de pesquisa em todo o território brasileiro. Esse número é pouco expressivo quando comparado ao fomento à pesquisa em países protagonistas mundiais em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Para 2023, por exemplo, a National Science Foundation (NSF), uma das agências governamentais dos Estados Unidos que promovem a pesquisa científica, teve aprovado um orçamento de cerca de 11 bilhões de dólares (cerca de 55 bilhões de reais). Todo o orçamento do edital Universal do CNPq foi menor do que o que o governo dos EUA destinou somente para apoio logístico na Antártida (90 milhões de dólares). Segundo o portal da transparência do governo federal, as despesas previstas para o CNPq em 2023 não chegam a 2 bilhões de reais (400 milhões de dólares), ou seja, menos de 5% do orçamento da NSF.

Dada sua importância no desenvolvimento da ciência nacional, é imprescindível ampliar substancialmente os valores aportados nas próximas chamadas públicas do CNPq. É também essencial que o CNPq possua perenidade e periodicidade nos seus editais. Isso permite que os cientistas brasileiros planejem suas atividades de pesquisa, dialogando, inclusive, com momentos cruciais, como as avaliações da pós-graduação realizadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O ecossistema de CT&I produz melhores resultados quando há maior previsibilidade no financiamento e planejamento conjunto de ações.

A alta demanda registrada no edital Universal corrobora a importância da urgente necessidade de um reforço no orçamento do CNPq, que sofreu com duros e desarrazoados cortes nos últimos dois governos federais. A China, que na década de 1990 possuía indicadores inferiores ao Brasil, hoje é a segunda potência mundial no desenvolvimento de CT&I. Investimento perene e robusto, planejamento estratégico e apoio às universidades e centros de pesquisa são os pilares do desenvolvimento chinês. Portanto, é fundamental que o Governo Federal reconheça a necessidade de recursos significativamente maiores para garantir que o Brasil possa competir globalmente em pesquisa e inovação.

O investimento em pesquisa é um catalisador para o crescimento econômico e possui relação direta com a melhoria da qualidade de vida da população. Do compromisso contínuo com o investimento e a colaboração entre governo, pesquisadores e instituições de ensino e pesquisa dependem o futuro da CT&I no Brasil.

*O artigo expressa exclusivamente a opinião dos autores

** reportagem publicada originalmente no Jornal da Ciência, no dia 26/10/2023.