PRPG/UFPI agracia pesquisa inédita e internacional sobre melancia com entrega de certificado

Há muito tempo, ouvia-se que a melancia é uma fruta que provoca enxaqueca ao ser consumida. Nesse sentido, por meio de pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), essa história popular foi comprovada e transmitida à comunidade acadêmica e externa, tendo inclusive sido publicada em revistas internacionais. 

Desta forma, na tarde desta terça-feira (12/9), a Pró-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação (PRPG) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) consagrou a finalização do projeto de pesquisa produzido pelo Professor da UFDPar, Silva Néto, com a entrega do certificado de conclusão do estágio de Pós-Doutorado, realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, ao agora egresso da instituição. Na oportunidade, estiveram presentes a Pró-Reitora Regilda Moreira-Araújo; o Supervisor do estágio e professor da PPG em Ciências Farmacêuticas, Prof. Luciano da Silva Lopes; e o atual Coordenador do PPG em Ciências Farmacêuticas, André Luis Menezes Carvalho.

O estudo trata-se de ensaio clínico intervencionista para caracterizar a ingestão de melancia como fator de ativação da via L-arginina-óxido nítrico e de deflagração de crises de cefaleia em pacientes com enxaqueca. Durante o estágio, segundo o prof. Silva Néto, para que o estudo fosse comprovado na prática, foi realizada uma amostra, na qual foram formados dois grupos, divididos entre pessoas que tinham enxaqueca e as que não eram acometidas pela doença. Na investigação, ambos os grupos ingeriram a melancia e depois de 2 horas da ingestão foi feita a dosagem sanguínea para determinar os níveis séricos de nitrito. Em conclusão, 29% do grupo que já apresentava dores de cabeça, após o consumo, sentiu-as outra vez, enquanto os que não tinham a enfermidade, não tiveram complicações.

A pesquisa inédita, tendo em vista que até então não existia nenhum trabalho mostrando que a melancia provoca enxaqueca, cientificamente, foi publicada em revistas internacionais como European Neurology, em 2023 de tema, Migraine attacks triggered by ingestion of watermelon (Citrullus lanatus): A source of citrulline activating the L-arginine-nitric oxide pathway; e Postgraduate Medicine, em 2021 com o nome “Watermelon and others plant foods that trigger headache in migraine patients“, ambas contaram também com a participação do Prof. Luciano da Silva Lopes.

Profa. Regilda Moreira-Araújo evidencia o papel da UFPI na promoção de pesquisas acadêmicas

“A descoberta importante dentro do Programa de Pós-Graduação da Universidade, que já conta com publicações internacionais, evidencia os esforços da instituição em promover a pesquisa e a mobilidade acadêmica”, assim relatou a Pró-Reitora da PRPG, Regilda Moreira Araújo, durante a entrega do certificado. Com entusiasmo, a docente da UFPI ressaltou sua satisfação em ver o êxito dos programas, dos professores, discentes, bem como de todo o corpo que forma a Universidade. Excelência a qual possibilitou a nota cinco pela CAPES, em que a Pós-Graduação teve um papel muito relevante nesta conquista.

“Quando a gente produz trabalhos de impacto, os quais vão ser publicados internacionalmente, acaba que chamamos a atenção para a nossa instituição, para os nossos programas, pois outros pesquisadores vão ler e, por conseguinte, convidar nossos discentes para parcerias, intercâmbios, para compartilhar esse conhecimento. Isso faz com que a UFPI cada vez mais tenha visibilidade e consiga melhor evoluir seu ranqueamento junto às outras instituições de ensino superior”, enfatizou.

Pesquisador agraciado destaca o estudo inédito

A pesquisa idealizada pelo Prof. Silva Néto começou há mais de seis anos quando ingressou em seu Doutorado. Continuar a debruçar-se sobre o assunto no estágio de Pós-Doutorado na UFPI era um anseio do docente, que durante cerca de quase dois anos estudou experimentalmente o tema no Departamento de Biofísica e Fisiologia da universidade.

“A gente já sabia da participação do óxido nítrico na fisiopatologia da doença e agora reforça-se essa teoria, pois essa molécula advém dos aminoácidos que estão na melancia. Com essa pesquisa, entendemos que a fruta realmente causa dor de cabeça e o motivo disso ocorrer, tendo em vista que agora não é mais só uma crença, é algo com embasamento científico. Além disso, o projeto abre caminho para novos estudos que poderão surgir à luz dessa temática”, destacou o pesquisador.

Supervisor do Estágio, Prof. Luciano Lopes, discursa sobre as contribuições da pesquisa

Como Supervisor do estágio, o Prof. Luciano da Silva Lopes evidencia que o projeto é algo bastante interessante, por ser uma área curiosa, em que estuda-se o efeito de alimentos comuns no dia a dia, assim como a interferência destes em algumas doenças e, especificamente, no caso da enxaqueca. “Foi um achado científico muito importante, o qual demonstra que o programa tem uma estrutura capaz de desenvolver projetos que são importantes, inclusive, com impactos para as pessoas de uma forma geral. Então, são muitas as contribuições que isso trouxe para a comunidade, na verdade, um dos objetivos da ciência é trazer algum tipo de benefício, que nem sempre é visto pela população, mas nesse caso é a explicação de algo que já se sabia ou pelo menos já se tinha uma informação prévia”, disse.

O Coordenador do PPG enfatiza a importância do programa para a comunidade

Para o Coordenador do PPG, Prof. André Luis Menezes Carvalho, o trabalho é extremamente importante e inovador, com alta capacidade de trazer visibilidade ao estudo desenvolvido pelo corpo acadêmico. “A qualidade do trabalho que foi desenvolvido nos fortalece enquanto Programa de Pós-graduação e ajuda na formação de novos recursos humanos, na elaboração de novos projetos e investigações futuras nesta área”, pontuou.

O Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas é o único da região meio norte, e a partir de 2024 apresentará a primeira turma de doutores formados pela Universidade Federal do Piauí.

Reportagem publicada originalmente no portal da UFPI.

Uma tragédia anunciada

Por Lucindo José Quintans Júnior*

A queda inédita na produção científica brasileira em 2022, conforme apontada no relatório da Elsevier-Bori, acende um alerta sobre o impacto negativo dos cortes de financiamento para ciência e o negacionismo científico no país, especialmente promovido pelo Governo Bolsonaro. Enquanto a produção científica mundial cresceu 6,1%, o Brasil experimentou uma inédita queda de 7,4%, interrompendo um contínuo crescimento anual desde 1996, ano em que os dados começaram a ser tabulados.

O cenário de 2022 se mostrou globalmente desafiador, com 23 países apresentando queda no número de artigos científicos publicados, marcando o ano com a maior quantidade de nações afetadas negativamente. A Pandemia da COVID-19 certamente contribuiu para a redução da produção científica em diversas nações. Contudo, no governo anterior, o Brasil testemunhou um explícito retrocesso em relação ao apoio e ao investimento na área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), o que teve consequências profundamente prejudiciais ao desenvolvimento científico nacional. Aliados a isso, a postura negacionista adotada por membros proeminentes do “governo da terra plana” em relação a temas científicos cruciais, como a mudança climática e a pandemia da COVID-19, minou a credibilidade e o reconhecimento da ciência como um pilar fundamental para o progresso do país.

É importante destacar que a redução na produção científica brasileira só encontrou comparação com a Ucrânia, país em guerra, reforçando a gravidade da situação e posicionando o Brasil entre as nações que mais perderam em produção científica. De fato, os efeitos dessas políticas retrogradas são visíveis no relatório da Elsevier-Bori e sem precedentes em nossa história recente.

Assim, essa conjuntura adversa, combinada com a falta de apoio e incentivos, gerou um ambiente hostil para a pesquisa e a produção científica no Brasil. Muitos pesquisadores e cientistas talentosos se viram desencorajados e, em alguns casos, até mesmo impossibilitados de prosseguir com suas atividades acadêmicas e de pesquisa devido à ausência de recursos e reconhecimento institucional. Podemos dizer que houve uma espécie de diáspora de pesquisadores, muito bem formados em solo nacional, que preferiram mudar suas vidas para outros países, com maior apoio à pesquisa e à carreira de pesquisador. Assim, perdemos parte do investimento público brasileiro originalmente destinado na capacitação destes pesquisadores. Igualmente grave é que esses indicadores revelam uma preocupante tendência de enfraquecimento da pesquisa e do conhecimento científico no Brasil, o que pode ter impactos significativos no desenvolvimento do país e na busca por soluções para problemas complexos.

Várias entidades, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciência (ABC), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação das Instituições de Ensino Superior Brasileiras (FOPROP) e Associação Nacional de Pós-Graduando (ANPG) vinham, nos últimos 4 anos, alertando a sociedade brasileira sobre o continuo retrocesso para a CT&I promovido pelo governo anterior. Era uma tragédia anunciada!

Qual a repercussão?

O país passa a ter um menor papel como “player” internacional na CT&I, tornando-se menos atrativo para a formação de parcerias internacionais e, consequentemente, tendo maior dificuldade na realização de pesquisas inovadoras que transitem na fronteira do conhecimento humano. Maior dificuldade no desenvolvimento de produtos e processos disruptivos para o desenvolvimento de nossa indústria, dos ecossistemas de inovação e suporte ao terceiro setor. Como corolário disso tudo, há francos prejuízos aos nossos já complexos ecossistemas de empreendedorismo, as áreas tecnológicas e a economia do país. Nas áreas de humanidades e sociais aplicadas o drama é ainda maior, pois o desinvestimento e os ataques foram contínuos e completamente desarrazoados, gerando desestímulo e desqualificando áreas estratégicas e produtivas do país. Por fim, o mesmo desinvestimento gerou a paralisia de projetos e estruturas de pesquisa que, mesmo com grande reinvestimento, terão grandes dificuldades de colocar linhas de pesquisas, grupos de pesquisas, equipamentos de grande porte e infraestruturas multiusuárias novamente funcionando, pois fazer pesquisa não é um botão de “liga-desliga”, trata-se de um complexo ambiente que envolve pessoas qualificadas, laboratórios estruturados, insumos e recursos para a continuidade de trabalho, entre outros fatores. Ou seja, o dano é irreversível para o país.

Portanto, é fundamental que a sociedade, os líderes políticos e as instituições reconheçam a grande importância da ciência e reafirmem seu compromisso com o fortalecimento da CT&I no Brasil. Investir em pesquisa e em políticas baseadas em evidências é essencial para enfrentar os desafios globais, promover o desenvolvimento sustentável e garantir um futuro próspero para o país. É exatamente por essa razão que o resgate da ciência e da pesquisa como pilares centrais da nação representa uma tarefa urgente e indispensável para o progresso do Brasil.

Notas

Reportagem publicada originalmente em Destaque Notícias.

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Professor Titular no Departamento de Fisiologia (DFS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

e-mail: lucindo@academico.ufs.br