Primeiro presidente, o Professor João Callegari conta a história da ABCF e ressalta a importância da participação de pesquisadores atuais no movimento em prol das Ciências Farmacêuticas
Montar uma sociedade que representasse as ciências farmacêuticas era um desejo antigo de muitos pesquisadores da área, que sentiam falta de uma entidade que pudesse falar em nome do setor perante as agências de fomento, tanto que muitos saíam do Brasil para o Doutorado. “O ano de 1968 foi um marco para o ensino superior no Brasil com a reforma universitária. Dentre as alterações, houve a criação dos institutos, o que provocou uma migração dos docentes e pesquisadores das áreas básicas das faculdades”, explica o Professor sênior da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, João Luis Callegari Lopes.
As ciências farmacêuticas, que tinham em sua estrutura curricular disciplinas como química, farmacologia e microbiologia, entre outras, viram seus principais pesquisadores se associarem aos seus respectivos institutos. “Esse movimento fez com que as áreas básicas perdessem uma massa crítica muito importante no desenvolvimento de pesquisas, já que os pesquisadores passaram a trabalhar em conjunto com seus pares nos institutos”, comenta.
A reforma também propiciou condições para o desenvolvimento da pós-graduação como um curso de formação em pesquisa e muitas áreas se desenvolveram rapidamente nesse cenário. “No caso das ciências farmacêuticas, a pós-graduação teve um desenvolvimento mais tardio. O primeiro curso surgiu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1970, mas só foi reconhecido formalmente em 1972. Com esse programa bastante ativo, começaram as discussões sobre a falta de uma sociedade que representasse a área de farmácia em órgãos como o CNPq e a Capes, que fomentam apoio à pós-graduação e à pesquisa”, conta o professor Callegari.
Somente em 1993 foi criada uma área de Farmácia na Capes, o que possibilitou a presença de um representante na entidade com direito à voz e voto. “No caso do CNPq, esse reconhecimento aconteceu em 2004 e na Fapesp em 2010”, afirma.
A nomeação de uma diretoria pro-tempore, constituída a fim de organizar o estatuto para a então Sociedade Brasileira de Ciências Farmacêuticas, ocorreu em 1º de julho de 2003, durante uma reunião do CIFARP. Posteriormente, esse nome precisou ser alterado para Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF). “Fui nomeado presidente desta primeira comissão que elaborou estatutos e definiu a sede executiva da ABCF. No CIFARP de 2005 aprovamos e registramos os estatutos e tivemos a nomeação da primeira Diretoria Executiva e eu novamente entrei como presidente”, lembra o professor Callegari, que também assumiu a presidência entre os anos de 2007 e 2009.
Em sua primeira gestão, Callegari destaca dois principais desafios: conquistar associados e tornar a sociedade conhecida e reconhecida pelas agências de fomento. “Sem associados não fazia sentido termos a ABCF. Foi difícil trazer os pesquisadores, não pelo valor da anuidade, que era simbólico, mas porque eles já estavam ligados às sociedades das suas especialidades e nosso objetivo era atrair esses pesquisadores para participarem de uma segunda associação que tinha fins científicos”, analisa.
As primeiras dificuldades deram força às primeiras realizações. “Tornamos a associação reconhecida pelo CNPq e pela Capes e, aos poucos, fomos conquistando espaço para as ciências farmacêuticas em outras associações, coparticipando da organização de eventos”, relata.
Dentro do CNPq, a ABCF tem direito a voto e indicação de uma pessoa para o Conselho Superior da entidade. “O processo é realizado com transparência e todos os associados podem fazer sua indicação. O presidente da associação indica os três pesquisadores mais votados para a entidade, isso é uma conquista de todos que participam da ABCF”, ressalta.
Atualmente, o professor Callegari é associado à ABCF e tem boas perspectivas para o futuro da associação. “Uma nova geração está assumindo Diretoria, pessoas que eram estudantes na época em que foi construída e hoje são pesquisadores. Desejo que continuem esse processo democrático e de fortalecimento da área de farmácia. Quanto mais atuante a área, mais reconhecida ela será”, destaca.
“Ver essa juventude assumindo a ABCF com força de vontade, dando continuidade ao trabalho que começamos há 20 anos traz, primeiro, a sensação de que não trabalhamos em vão; e segundo que, enquanto docentes e pesquisadores, contribuímos para a formação de jovens bem informados, que hoje assumem as posições com determinação, responsabilidade”, diz Callegari.
Para ele, a atuação de quem está na ativa é fundamental. “É importante ver que os jovens estão assumindo o seu papel, não estão deitados naquilo que foi feito, estão atuantes, procurando atingir um grau de conhecimento maior. Isso traz uma sensação de dever cumprido”, finaliza o professor.