“A ABCF deve continuar crescendo nos próximos anos com a associação de mais pesquisadores da área de ciências farmacêuticas, ampliando sua inserção na sociedade e fortalecendo-se como uma entidade representativa da área”, afirma ex-presidente

Para Teresa Dalla Costa, associados mais jovens têm papel fundamental no fortalecimento e representatividade da entidade

Aproximar-se das agências de fomento, congregar e dar representatividade aos pesquisadores da área de Ciências Farmacêuticas são pilares fundamentais da atuação da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF), que completa duas décadas de existência em 2023. Uma personalidade que esteve presente nas reuniões antes mesmo da fundação da associação era Teresa Dalla Costa.

Em 2012, a Professora Titular da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) iniciou a sua atuação na diretoria da ABCF como Secretária Geral, durante a presidência da Profa. Suely Galdino. Teresa foi vice-presidente da ABCF até 2016. No ano seguinte, assumiu a presidência da entidade, onde ficou até 2018. Durante seu período na diretoria, participou da organização dos primeiros congressos próprios da ABCF, que iniciaram em 2012.

Na entrevista a seguir, a professora conta que seu maior desafio à frente da diretoria – e esse desafio não é exclusivo da ABCF, mas também de outras entidades científicas no país – foi a busca por aumentar o número de associados efetivos e engajar os participantes nas atividades propostas. “É fundamental que docentes e pesquisadores participem de sociedades científicas em suas áreas de atuação”, afirma.

Uma realização relevante da gestão de Teresa para a ABCF foi a parceria estabelecida com a Secad/Editora Panamericana para o PROFARMA, programa de educação continuada em Assistência Farmacêutica, Farmácia Clínica e Cuidado Farmacêutico. Os organizadores do material do PROFARMA são docentes e/ou pesquisadores associados da ABCF, indicados pela entidade. Deste modo, além de dar o aval científico para o programa, a ABCF ganha royalties que têm sido muito importantes para a saúde financeira da entidade.

Apesar das dificuldades, Teresa olha com orgulho as realizações de sua gestão, com destaque para a efetivação do Fórum de Coordenadores de Pós-graduação da Área de Farmácia como Comissão Especial da ABCF. Com a organização, o Fórum passou a ter um regimento, tornando-se parte da estrutura organizacional da ABCF e ganhando mais força em suas ações.

A professora também destaca que, na sua gestão, a associação colaborou com a organização de encontros regionais, nos quais a história e importância da ABCF para a consolidação da área de farmácia no país eram contadas por um dos fundadores da entidade. Nessa atividade, Teresa destaca a colaboração fundamental do fundador e ex-presidente da ABCF, Prof. João Callegari Lopes, que ministrou essas palestras nos eventos que ocorreram no Sul, Sudeste e Nordeste do país.

Em 2018, a ABCF voltou a realizar atividades científicas nas Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade à qual a associação é filiada. Teresa também destaca que, durante sua gestão organizou-se o IV Congresso da ABCF, que ocorreu em São Paulo, onde houve apresentação de 426 trabalhos aceitos na forma de resumos.

Especializada em Farmacocinética, com Doutorado em Farmácia pela University of Florida, nos Estados Unidos, Teresa vê com otimismo o período de crescimento da ABCF, com a entrada de mais pesquisadores da área de ciências farmacêuticas, ampliando sua inserção na sociedade e fortalecendo-se como uma entidade representativa da área. “Creio que os associados mais jovens têm um papel fundamental nesse processo e acredito que estão preparados para o desafio”, afirma.

Uma tragédia anunciada

Por Lucindo José Quintans Júnior*

A queda inédita na produção científica brasileira em 2022, conforme apontada no relatório da Elsevier-Bori, acende um alerta sobre o impacto negativo dos cortes de financiamento para ciência e o negacionismo científico no país, especialmente promovido pelo Governo Bolsonaro. Enquanto a produção científica mundial cresceu 6,1%, o Brasil experimentou uma inédita queda de 7,4%, interrompendo um contínuo crescimento anual desde 1996, ano em que os dados começaram a ser tabulados.

O cenário de 2022 se mostrou globalmente desafiador, com 23 países apresentando queda no número de artigos científicos publicados, marcando o ano com a maior quantidade de nações afetadas negativamente. A Pandemia da COVID-19 certamente contribuiu para a redução da produção científica em diversas nações. Contudo, no governo anterior, o Brasil testemunhou um explícito retrocesso em relação ao apoio e ao investimento na área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), o que teve consequências profundamente prejudiciais ao desenvolvimento científico nacional. Aliados a isso, a postura negacionista adotada por membros proeminentes do “governo da terra plana” em relação a temas científicos cruciais, como a mudança climática e a pandemia da COVID-19, minou a credibilidade e o reconhecimento da ciência como um pilar fundamental para o progresso do país.

É importante destacar que a redução na produção científica brasileira só encontrou comparação com a Ucrânia, país em guerra, reforçando a gravidade da situação e posicionando o Brasil entre as nações que mais perderam em produção científica. De fato, os efeitos dessas políticas retrogradas são visíveis no relatório da Elsevier-Bori e sem precedentes em nossa história recente.

Assim, essa conjuntura adversa, combinada com a falta de apoio e incentivos, gerou um ambiente hostil para a pesquisa e a produção científica no Brasil. Muitos pesquisadores e cientistas talentosos se viram desencorajados e, em alguns casos, até mesmo impossibilitados de prosseguir com suas atividades acadêmicas e de pesquisa devido à ausência de recursos e reconhecimento institucional. Podemos dizer que houve uma espécie de diáspora de pesquisadores, muito bem formados em solo nacional, que preferiram mudar suas vidas para outros países, com maior apoio à pesquisa e à carreira de pesquisador. Assim, perdemos parte do investimento público brasileiro originalmente destinado na capacitação destes pesquisadores. Igualmente grave é que esses indicadores revelam uma preocupante tendência de enfraquecimento da pesquisa e do conhecimento científico no Brasil, o que pode ter impactos significativos no desenvolvimento do país e na busca por soluções para problemas complexos.

Várias entidades, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciência (ABC), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação das Instituições de Ensino Superior Brasileiras (FOPROP) e Associação Nacional de Pós-Graduando (ANPG) vinham, nos últimos 4 anos, alertando a sociedade brasileira sobre o continuo retrocesso para a CT&I promovido pelo governo anterior. Era uma tragédia anunciada!

Qual a repercussão?

O país passa a ter um menor papel como “player” internacional na CT&I, tornando-se menos atrativo para a formação de parcerias internacionais e, consequentemente, tendo maior dificuldade na realização de pesquisas inovadoras que transitem na fronteira do conhecimento humano. Maior dificuldade no desenvolvimento de produtos e processos disruptivos para o desenvolvimento de nossa indústria, dos ecossistemas de inovação e suporte ao terceiro setor. Como corolário disso tudo, há francos prejuízos aos nossos já complexos ecossistemas de empreendedorismo, as áreas tecnológicas e a economia do país. Nas áreas de humanidades e sociais aplicadas o drama é ainda maior, pois o desinvestimento e os ataques foram contínuos e completamente desarrazoados, gerando desestímulo e desqualificando áreas estratégicas e produtivas do país. Por fim, o mesmo desinvestimento gerou a paralisia de projetos e estruturas de pesquisa que, mesmo com grande reinvestimento, terão grandes dificuldades de colocar linhas de pesquisas, grupos de pesquisas, equipamentos de grande porte e infraestruturas multiusuárias novamente funcionando, pois fazer pesquisa não é um botão de “liga-desliga”, trata-se de um complexo ambiente que envolve pessoas qualificadas, laboratórios estruturados, insumos e recursos para a continuidade de trabalho, entre outros fatores. Ou seja, o dano é irreversível para o país.

Portanto, é fundamental que a sociedade, os líderes políticos e as instituições reconheçam a grande importância da ciência e reafirmem seu compromisso com o fortalecimento da CT&I no Brasil. Investir em pesquisa e em políticas baseadas em evidências é essencial para enfrentar os desafios globais, promover o desenvolvimento sustentável e garantir um futuro próspero para o país. É exatamente por essa razão que o resgate da ciência e da pesquisa como pilares centrais da nação representa uma tarefa urgente e indispensável para o progresso do Brasil.

Notas

Reportagem publicada originalmente em Destaque Notícias.

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Professor Titular no Departamento de Fisiologia (DFS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

e-mail: lucindo@academico.ufs.br

“O fortalecimento da representatividade da ABCF contribuirá para a evolução da política de medicamentos e da saúde pública no Brasil”, diz ex-presidente, hoje conselheira da ABCF

Em entrevista exclusiva, a professora Sandra Farsky fala sobre o estímulo à pós-graduação e o contato com agências de fomento

No ano em que a Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF) completa duas décadas de existência, as perspectivas de crescimento são positivas. Segundo a professora Sandra Helena Poliselli Farsky, membro do Conselho Consultivo da ABCF, o cenário é de otimismo, já que a atuação da associação acompanha as mudanças no atual Governo Brasileiro, que fortalece e acredita nas ciências. Mas ainda há um longo e importante caminho a ser trilhado

“Temos que estar atentos a todas as oportunidades que estão surgindo, abrir caminhos junto às agências de fomento, propondo editais para as Ciências Farmacêuticas. Embora já tenhamos avançado, ainda há muito a ser feito para a política de medicamentos no Brasil, somos muito dependentes nesta questão e só conseguiremos atuar nessa área se tivermos uma representativa, tanto nas ciências quanto na inovação”, conta a Sandra Helena Poliselli Farsky.

Para ela, uma das formas de fortalecimento da ABCF é a pós-graduação. A representatividade da pós-graduação dentro das agências de fomento foi a razão primordial da criação da ABCF. Realizou trabalhos para atrair a pós-graduação para dentro da associação durante os dois anos em que ocupou o cargo de presidente.

“Precisamos que a pesquisa em ciências farmacêuticas seja valorizada, portanto é importante que orientadores e alunos estejam vinculados a uma associação que os represente junto às agências. A ABCF é o canal para que projetos conjuntos, de grande visibilidade, sejam propostos para as agências e iniciativas privadas e divulgadas à população.

Trajetória

Sandra iniciou a vida acadêmica aos 17 anos, quando ingressou no curso de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. “Escolhi Farmácia porque queria trabalhar na área de saúde. Hoje vejo que fiz a escolha certa, adoro o que faço”, afirma.
Com a intenção de seguir na área de pesquisa, Sandra iniciou a pós-graduação em São Paulo, onde entrou no Doutorado no Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Quando terminei o Doutorado solicitei uma bolsa no CNPq e fui para o Instituto Butantan aplicar o que tinha feito no doutorado”, comenta.

Ainda trabalhando no Instituto, a professora conseguiu uma bolsa de Jovem Pesquisador na Fapesp e montou o seu próprio laboratório. “Foi uma época muito produtiva, trabalhei bastante, mas infelizmente não abriu concurso para o Butantan, acabei prestando concurso na Faculdade de Farmácia da USP, onde desde 2011 sou professora titular”, conta Sandra.

Sua atuação na ABCF começou em 2004, durante sua jornada na pós-graduação. “Eu participava muito das reuniões da Capes, liberada pelas professoras Suely Galdino e Dulcinéia Abdalla, que sempre foram mentoras para mim, pessoas que admiro muito. Elas estavam à frente da Capes na ocasião e tivemos anos produtivos, tanto que os membros dos programas de pós-graduação induziram a ABCF para fortalecer as Ciências Farmacêuticas”, destaca.

O primeiro contato com a Diretoria da associação ocorreu na gestão 2017-2018, quando a presidente era Teresa Dalla Costa. “Eu era tesoureira da associação quando o Flávio da Silva Emery, então vice-presidente, me convidou para concorrer em sua chapa. Na época expliquei que não era minha intenção, mas acabei assumindo a vice-presidência da ABCF junto do Flávio, e a presidência na gestão seguinte (2021-2022). Foi um momento muito difícil por conta da pandemia, mas aproveitamos para fazer um trabalho muito forte de divulgação da associação”, relembra a professora.

Como as reuniões só podiam ser realizadas on-line, Sandra instituiu um calendário mensal e toda a diretoria era convidada a participar. “Uma decisão muito acertada na época, tanto que até hoje as reuniões são realizadas assim. Foi uma forma de envolver os 18 representantes da diretoria da ABCF nas tomadas de decisões e estabelecer um momento onde todos eram ouvidos”, explica. Outra iniciativa importante iniciada na gestão de Sandra foi a de comemorar as datas importantes das Ciências Farmacêuticas.

Diferentemente do Congresso de 2021, que foi todo on-line, o de 2022 foi presencial e Sandra conta que essa foi uma vontade dos participantes. “As pessoas sentiam necessidade de se encontrar, mesmo que fosse necessário abrir as inscrições para um número menor de pessoas. Guilherme Gelfuso, atual presidente da ABCF organizou o congresso em Brasília e foi um sucesso. Desta forma fechamos com chave de ouro a gestão”, celebra.

E mesmo deixando a presidência, Sandra fez questão de continuar na ABCF, pois encontrou nessa iniciativa uma maneira de dar suporte à atual gestão. “Assim, intercalamos as pessoas que têm mais experiência com as que estão chegando, para que elas possam conhecer o funcionamento da associação que hoje está bem mais fortalecida”, finaliza.

20 anos de ABCF: os desafios e conquistas do início da Associação

Primeiro presidente, o Professor João Callegari conta a história da ABCF e ressalta a importância da participação de pesquisadores atuais no movimento em prol das Ciências Farmacêuticas

Montar uma sociedade que representasse as ciências farmacêuticas era um desejo antigo de muitos pesquisadores da área, que sentiam falta de uma entidade que pudesse falar em nome do setor perante as agências de fomento, tanto que muitos saíam do Brasil para o Doutorado. “O ano de 1968 foi um marco para o ensino superior no Brasil com a reforma universitária. Dentre as alterações, houve a criação dos institutos, o que provocou uma migração dos docentes e pesquisadores das áreas básicas das faculdades”, explica o Professor sênior da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, João Luis Callegari Lopes.

As ciências farmacêuticas, que tinham em sua estrutura curricular disciplinas como química, farmacologia e microbiologia, entre outras, viram seus principais pesquisadores se associarem aos seus respectivos institutos. “Esse movimento fez com que as áreas básicas perdessem uma massa crítica muito importante no desenvolvimento de pesquisas, já que os pesquisadores passaram a trabalhar em conjunto com seus pares nos institutos”, comenta.

A reforma também propiciou condições para o desenvolvimento da pós-graduação como um curso de formação em pesquisa e muitas áreas se desenvolveram rapidamente nesse cenário. “No caso das ciências farmacêuticas, a pós-graduação teve um desenvolvimento mais tardio. O primeiro curso surgiu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1970, mas só foi reconhecido formalmente em 1972. Com esse programa bastante ativo, começaram as discussões sobre a falta de uma sociedade que representasse a área de farmácia em órgãos como o CNPq e a Capes, que fomentam apoio à pós-graduação e à pesquisa”, conta o professor Callegari.

Somente em 1993 foi criada uma área de Farmácia na Capes, o que possibilitou a presença de um representante na entidade com direito à voz e voto. “No caso do CNPq, esse reconhecimento aconteceu em 2004 e na Fapesp em 2010”, afirma.

A nomeação de uma diretoria pro-tempore, constituída a fim de organizar o estatuto para a então Sociedade Brasileira de Ciências Farmacêuticas, ocorreu em 1º de julho de 2003, durante uma reunião do CIFARP. Posteriormente, esse nome precisou ser alterado para Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF). “Fui nomeado presidente desta primeira comissão que elaborou estatutos e definiu a sede executiva da ABCF. No CIFARP de 2005 aprovamos e registramos os estatutos e tivemos a nomeação da primeira Diretoria Executiva e eu novamente entrei como presidente”, lembra o professor Callegari, que também assumiu a presidência entre os anos de 2007 e 2009.

Em sua primeira gestão, Callegari destaca dois principais desafios: conquistar associados e tornar a sociedade conhecida e reconhecida pelas agências de fomento. “Sem associados não fazia sentido termos a ABCF. Foi difícil trazer os pesquisadores, não pelo valor da anuidade, que era simbólico, mas porque eles já estavam ligados às sociedades das suas especialidades e nosso objetivo era atrair esses pesquisadores para participarem de uma segunda associação que tinha fins científicos”, analisa.
As primeiras dificuldades deram força às primeiras realizações. “Tornamos a associação reconhecida pelo CNPq e pela Capes e, aos poucos, fomos conquistando espaço para as ciências farmacêuticas em outras associações, coparticipando da organização de eventos”, relata.

Dentro do CNPq, a ABCF tem direito a voto e indicação de uma pessoa para o Conselho Superior da entidade. “O processo é realizado com transparência e todos os associados podem fazer sua indicação. O presidente da associação indica os três pesquisadores mais votados para a entidade, isso é uma conquista de todos que participam da ABCF”, ressalta.

Atualmente, o professor Callegari é associado à ABCF e tem boas perspectivas para o futuro da associação. “Uma nova geração está assumindo Diretoria, pessoas que eram estudantes na época em que foi construída e hoje são pesquisadores. Desejo que continuem esse processo democrático e de fortalecimento da área de farmácia. Quanto mais atuante a área, mais reconhecida ela será”, destaca.

“Ver essa juventude assumindo a ABCF com força de vontade, dando continuidade ao trabalho que começamos há 20 anos traz, primeiro, a sensação de que não trabalhamos em vão; e segundo que, enquanto docentes e pesquisadores, contribuímos para a formação de jovens bem informados, que hoje assumem as posições com determinação, responsabilidade”, diz Callegari.

Para ele, a atuação de quem está na ativa é fundamental. “É importante ver que os jovens estão assumindo o seu papel, não estão deitados naquilo que foi feito, estão atuantes, procurando atingir um grau de conhecimento maior. Isso traz uma sensação de dever cumprido”, finaliza o professor.

ABCF celebra 20 anos e busca ampliar interlocução com órgãos de fomento

Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas foi instituída com o objetivo de representar pesquisadores junto a órgãos acadêmicos

A ABCF – Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas – completa 20 anos com uma missão importante: ampliar a interlocução com órgãos de fomento relacionados a ensino e pesquisa do país. Instituída em 2003, a entidade tem o objetivo de representar os pesquisadores da área junto aos diferentes órgãos acadêmicos e científicos.

O atual presidente, Guilherme Martins Gelfuso, conta que neste mês de abril a ABCF já consultou seus associados e encaminhou ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – indicação de pesquisadores representantes para recompor o comitê da área de Farmácia.

Segundo ele, este é um momento de recomeço para as ciências de um modo geral, e as Ciências Farmacêuticas acompanham essa movimentação. Com foco em aumentar a visibilidade da ABCF, a nova Diretoria trabalha firme na difusão de informações sobre a Associação. “Temos que aprender a nos comunicar tanto com a população quanto com o público da área científica e acadêmica, além de dar continuidade aos congressos e aumentar o público nesses eventos”, ressalta o presidente.

A proposta é ampliar essa atuação, abrindo espaço – e oportunidades – para que os pesquisadores das ciências farmacêuticas encontrem na ABCF um porto seguro de sua representatividade perante a sociedade. Esse, aliás, foi um dos pilares que sustentou a criação da entidade.

Idealizada por professores e pesquisadores durante a 4ª edição do CIFARP – Congresso Internacional de Ciências Farmacêuticas, promovido a cada dois anos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FCFRP-USP, a Associação nasceu do anseio por uma sociedade científica que representasse as Ciências Farmacêuticas junto a diferentes instâncias, a fim de apoiar pesquisadores e agregar valor à área.

“Essa ausência nos incomodava e era assunto toda vez em que nos encontrávamos em eventos da área. Então, durante o IV CIFARP, realizado em Ribeirão Preto em julho de 2003, criamos a Sociedade Brasileira de Ciências Farmacêuticas, que teve o nome alterado, depois que o estatuto foi elaborado e homologado”, relata o professor titular da Faculdade de Farmácia da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais – Armando da Silva Cunha Júnior, um dos pioneiros desta iniciativa.

Com a associação criada, os esforços passaram a ser no sentido de estruturar e consolidar a ABCF no meio acadêmico. “Fui membro da diretoria da associação em diferentes momentos. Em 2013, quando fui presidente da ABCF, os principais desafios eram referentes à organização financeira e a todo o processo de prestação de contas do 1º Congresso realizado pela ABCF em 2012”, relembra Cunha Júnior, que destaca duas importantes realizações à frente da associação.

“Concluímos o processo de elaboração e encaminhamento, junto com as principais entidades representativas da área, de uma classificação mais adequada das subáreas da Farmácia que constituem a Tabela de Área do Conhecimento do CNPq. Além disso, elaboramos o projeto para a realização do 2º Congresso da ABCF em 2014”.

Identidade própria

Com a ABCF consolidada junto aos órgãos acadêmicos, faltavam agora alguns ajustes para que tivesse mais autonomia e uma identidade própria com relação a escolha das novas diretorias. O ano era 2014. O professor do Departamento de Farmácia na UEM – Universidade Estadual de Maringá, João Carlos Palazzo de Mello, então presidente da Associação, participou ativamente desse processo. “Meu mandato se estendeu até 2017, por um pedido meu junto à Assembleia. Meu objetivo era ajustar o período das eleições da Diretoria, que antes aconteciam dentro do CIFARP”, comenta Mello.

A experiência como presidente da Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFgnosia), lhe permitiu iniciar um trabalho para acertar a documentação da ABCF. “Ela estava registrada na cidade de São Paulo, o que dificultava o trabalho burocrático da associação, como o registro de atas. Para nos ajudar nesse processo, contratamos um advogado que nos ajudou a trazer a sede para Ribeirão Preto. Hoje ela funciona dentro do SUPERA, que é a incubadora de empresas vinculada à USP”, explica.

“A partir daí reorganizamos o processo de eleição, que hoje ocorre em um evento próprio da associação, além das reuniões periódicas realizadas na sede, que passou a ser um local de fácil acesso para todos”, complementa Pallazo de Mello.

Outro desafio enfrentado em sua gestão foi o de criar condições para que as próximas diretorias tivessem autonomia para organizar o evento bianual da entidade. “Essas conquistas foram primordiais para que a ABCF passasse a ser vista como uma associação de fato”.

Interlocução

Com a evolução da área de farmácia nos últimos anos, a ABCF passou a exercer papel fundamental na interlocução da área com as agências de fomento. “Bem distantes dos 22 programas de Pós-Graduação que existiam quando a associação foi criada, hoje são 69 programas que contam com 1.200 docentes permanentes e centenas de alunos formados e matriculados anualmente nestes programas em seus cursos de Mestrado e Doutorado”, observa o professor Cunha Júnior.

Neste contexto, a ABCF, como principal associação científica que congrega todas as subáreas da Farmácia tem um importante papel no estímulo à cooperação entre os pesquisadores durante os eventos promovidos ou apoiados por ela.

Para o professor Palazzo de Mello, o grande desafio da ABCF agora é angariar associados. “Isso é fundamental para que ela possa crescer, se desenvolver e participar de fato do desenvolvimento da ciência no Brasil”, reforça. A proposta está entre as atividades previstas pela nova Diretoria, que assumiu no início de 2023.

Escutar os anseios da área permitirá a realização de ações que estimulem a constante atualização científica e contribuam para atrair jovens pesquisadores dispostos a se envolver nas questões das Ciências Farmacêuticas. O desafio está lançado. E a disposição em superá-lo também.

Como se associar

Associar-se à ABCF é simples. Basta clicar aqui para preencher a nossa ficha cadastral, fazer o pagamento da anuidade e pronto! Você passa a integrar esse time de pesquisadores que se uniram em prol das Ciências Farmacêuticas.